SAÚDE

Tosse prolongada pode ser sintoma de coqueluche, doença que cresceu 526% em BH

Até agora, foram 119 casos registrados na capital mineira, contra 19 no mesmo período de 2024; baixo índice de vacinação é principal causa segundo especialista

Por José Vítor Camilo e Letícia Fontes
Atualizado em 29 de maio de 2025 | 16:43

Após registrar nos primeiros cinco meses de 2025 um aumento de 526% nos casos de coqueluche — doença respiratória altamente contagiosa —, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) ampliou a aplicação da vacina para grupos específicos, conforme recomendação do Ministério da Saúde (MS). A doença, causada pela bactéria Bordetella pertussis, tem como principal característica, conforme infectologista ouvido por O TEMPO, a tosse prolongada, que pode durar por meses. 

Até o último dia 27 de maio, a capital mineira tinha registrado 119 casos de coqueluche, felizmente, sem nenhum óbito. No mesmo período de 2024, foram apenas 19 registros. Em todo o ano ado, foram 376 registros e uma morte. Conforme o do MS, a maioria das vítimas da doença em BH são crianças de 1 a 4 anos (42,8%), seguida das pessoas com 30 anos ou mais (17,6%).

Conforme o infectologista Estevão Urbano, a doença costuma ser mais grave em crianças e idosos, podendo levar à insuficiência respiratória e outras complicações. "É fundamental fazer um alerta para a população sobre quando suspeitar de coqueluche. A pessoa fica com uma tosse muito prolongada, que dura meses e é bastante desconfortável. Às vezes pode ocorrer a chamada tosse paroxística, que é quando a pessoa até perde um pouco o fôlego", orienta. 

Queda na vacinação pode explicar aumento

Em entrevista a O TEMPO, nesta quinta-feira (29), o secretário municipal de saúde, Danilo Borges Matias, relacionou o aumento dos casos à queda na vacinação. "Provavelmente por causa desse movimento anti-vacinas, estamos em um período em que muitas crianças de uma geração inteira ficaram com as suas doses negligenciadas. Por isso, temos também todo o cuidado com aqueles profissionais que lidam com as crianças dessa faixa etária mais suscetível, para que eles (crianças) também sejam protegidos", garantiu.

A suspeita também é indicada como uma justificativa para o aumento pelo infectologista Estevão Urbano. "A principal explicação para este aumento é a queda na vacinação, seja em crianças, no calendário normal, ou em adultos, nos reforços que deveriam ser feitos de tempos em tempos. Isso tem relação com as notícias falsas sobre as vacinas, que estão afetando toda a cadeia", aponta. 

Entretanto, segundo Urbano, também existe a possibilidade do aumento ter ocorrido devido a uma maior procura pelos exames de coqueluche. "Eventualmente, poderia ser um aumento da capacidade diagnóstica e não do número de casos reais. É uma hipótese, mas essa doença está sendo negligenciada há mais tempo. De toda forma, são dados relevantes e que merecem toda a atenção da população", argumentou. 

Vacinação continua baixa

Ainda segundo a PBH, atualmente a cobertura vacinal está em 89,16% para menores de 1 ano e 95% em crianças de 1 ano completo. O recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é que o índice de imunização esteja acima de 95%. Entretanto, o índice apresentou uma melhora em comparação com janeiro deste ano, quando a taxa do público-alvo vacinado estava em 75%

"O esquema vacinal é feito com três doses aos 2, 4 e 6 meses de vida, seguidas de reforços aos 15 meses e aos 4 anos de idade. A vacina está disponível nos 153 centros de saúde e no Serviço de Atenção à Saúde do Viajante", detalhou o município. 

Para além das crianças pequenas, a campanha de imunização também está disponível para profissionais da saúde que atuam em atendimentos de ginecologia, obstetrícia, pediatria, além de doulas e trabalhadores de berçários e creches com crianças de até 4 anos.