Para além da dificuldade de viverem a poucos metros da tragédia que mudou completamente suas vidas, as poucas pessoas que ainda moram no bairro Parque da Cachoeira, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, também precisam lidar com a falta de segurança gerada pelas dezenas de imóveis abandonados que hoje existem no local. Após o rompimento da barragem em Córrego do Feijão, a mineradora Vale comprou a maior parte das casas, como forma de indenização, deixando os moradores que restaram completamente “isolados”.
Morador do bairro desde 2001, o aposentado Geraldo Aparecido, 51, deu adeus ao pai, dois anos antes do rompimento, e também à mãe, pouco depois da tragédia, ali, na casa onde ainda precisa viver. Na época do rompimento, a Vale ofereceu, segundo ele, preços acima daqueles praticados pelo mercado nos imóveis. Porém, a casa de sua família fazia parte do inventário do pai do atingido. Atualmente, o valor oferecido pela mineradora “não é mais justo”, segundo ele, devido à inflação.
“Eu fico sozinho aqui, na maior parte do tempo, e choro direto. De noite a cada figura aqui na rua, é muito inseguro. No começo, a Vale demoliu as casas. Agora, estão deixando as casas de pé, e elas viram esconderijo para bandido, cobra, escorpião. Vivemos sozinhos e sem segurança”, reclama. Ele lembra que, antes do ocorrido, o bairro era muito animado, recebendo muitas pessoas que tinham casas no local e iam ar o fim de semana, deixando as ruas sempre repletas de pessoas.
Vizinho de Geraldo, o auxiliar de marceneiro Gilberto Santos de Oliveira, 48, trabalha em Belo Horizonte e volta todos os dias para dormir em casa. Desde o rompimento, ele já teve o local arrombado duas vezes. “Levaram muita coisa, eletrodomésticos, botijão de gás, ferramentas. Até as galinhas que eu estava criando lá eles roubaram”, lembra.
Segundo o atingido, funcionários da mineradora avam para vistoriar os imóveis adquiridos, inicialmente, duas vezes por dia e, agora, quando muito, vão uma vez por semana. “Minha esposa e os meus filhos não querem ficar aqui, por causa do medo. Eles estão morando na casa da minha sogra, de favor”, destaca Oliveira.
“Vale não deu assistência devida”, diz prefeitura
Ouvida pela reportagem, a Prefeitura de Brumadinho destacou que, diferentemente do distrito de Córrego do Feijão, o bairro Parque da Cachoeira “não recebeu assistência devida da Vale”. “A pedido da prefeitura, como forma de contrapartida, a Vale construiu uma creche e um Posto de Saúde da Família no bairro. Vale ressaltar que essas obras foram acordadas direto com o município, antes de o acordo de reparação ser firmado”, argumentou.
Já o governo de Minas informou que está ciente da situação local e busca aprimorar o o dos moradores aos serviços de saúde e assistência social por meio de rees de recursos do acordo de reparação à Prefeitura de Brumadinho, que já totalizam R$ 293 milhões.
Questionada sobre a situação dos moradores do local, a Vale informou, por nota, que a indenização de propriedades dos bairros segue os critérios estabelecidos pelo termo de compromisso firmado. “Atualmente, está em andamento um estudo para avaliar o uso futuro desses imóveis, considerando as demandas e características da região”, concluiu.