CASO POLÊMICO

Personal trainer é confundida com pessoa trans e impedida de usar banheiro feminino em academia

Fisiculturista registrou boletim de ocorrência após incidente em academia no Recife; Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o caso.


Publicado em 27 de maio de 2025 | 17:36

Personal trainer e fisiculturista, uma mulher cis foi impedida de utilizar o banheiro feminino em uma academia em Boa Viagem, Recife. O incidente ocorreu na segunda-feira (26), quando frequentadores da academia confundiram Kely Moraes com uma pessoa trans e bloquearam sua entrada no banheiro. O caso foi registrado na Delegacia de Boa Viagem como constrangimento ilegal, vias de fato e ameaça.

A situação começou quando Kely tentava ar o banheiro feminino para limpar um ferimento no pé que sangrava após sofrer uma queda de moto a caminho do trabalho. Ao sair do local, uma mulher a abordou, iniciando a confusão.

A agressora afirmou que Kely não poderia utilizar aquele banheiro, sugerindo que ela seria trans e deveria usar o banheiro masculino. Um homem se juntou à mulher, impedindo fisicamente a entrada da personal no banheiro feminino.

"Ela disse que eu não podia ir no banheiro, e eu perguntei por quê. Ela disse 'não é lugar para você' e eu perguntei, novamente, por quê. Ela disse que o banheiro de homem era lá embaixo. Disse 'você é trans, mas é um homem'. Eu me alterei um pouco e minha aluna, que está grávida, chegou, pegou a conversa no meio do caminho e ficou muito nervosa", relatou Kely ao g1.

Quando questionado sobre o motivo de impedi-la de entrar, o homem que acompanhava a agressora respondeu: "É inclusa, é inclusiva, lá embaixo".

Em um vídeo gravado pela própria vítima, é possível ver o momento em que um homem vestindo regata preta e segurando uma garrafa rosa impede fisicamente sua entrada no banheiro.

"Por ser fisiculturista, nosso corpo é diferenciado, e isso é relativamente normal acontecer, as pessoas olharem feio. Eu já fui convidada a me retirar de uma festa. Mas nunca tinha acontecido nada nessa proporção, nada tão violento. Me senti ofendida, humilhada, ela gritava para todo mundo e as pessoas mandavam eu ficar calada. Eu que era a vítima ali", desabafou Kely.

Após a saída dos agressores do estabelecimento, Kely recebeu apoio da academia e dirigiu-se com sua aluna à Delegacia de Boa Viagem para registrar um boletim de ocorrência.

"Ela falava com tanta certeza o que eu era que eu quase mostrei minha identidade para provar que eu era mulher. Depois, entendi que eu não tinha que provar nada para ninguém. O olhar, as palavras ofensivas, diminuem você a nada. Se eu fosse [trans], o que tem a ver? Por que isso ofende tanto? Eu estava só trabalhando, só queria ir no banheiro", afirmou Kely Moraes.

A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar o caso. As investigações prosseguirão "até a completa elucidação" dos fatos, conforme informado pela autoridade policial.

Pronunciamento

Em nota oficial ao g1, a Selfit afirmou que "lamenta profundamente o episódio ocorrido na unidade Boa Viagem II" e "repudia qualquer ato de preconceito ou violência". A empresa declarou que "assim que a situação foi identificada, a equipe local agiu para conter os ânimos e garantir a segurança das pessoas envolvidas".

A academia também informou que "as partes foram orientadas a formalizar o ocorrido às autoridades competentes e, desde então, a Selfit está à disposição para colaborar com as investigações". Além disso, a empresa disse que "também foi iniciada uma apuração interna rigorosa e serão aplicadas medidas disciplinares adicionais, conforme os princípios e valores da empresa".

Por fim, a Selfit reafirmou seu compromisso em "proporcionar um ambiente seguro, acolhedor e respeitoso para todas as pessoas que frequentam nossas unidades — clientes, colaboradores, prestadores de serviço e parceiros".